Abraçada pela natureza
- Revista Habitare
- 22 de nov. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de abr.

Na Serra Fluminense, a construção de linhas retas privilegia as soluções sustentáveis, design brasileiro e áreas sociais voltadas para a natureza
Um ano e cinco meses foram necessários para que a casa de campo, no bairro de Corrêas, em Petrópolis, ficasse pronta. Projetada pelos arquitetos Maurício Magarão e Alice Lindenberg, que também assinam o décor, a construção de 1,1 mil m² atendeu aos desejos dos proprietários, um casal na faixa dos 45 anos que convive com os três filhos do marido. A família tinha a expectativa de desfrutar de uma casa prática e cheia de vida, na qual parentes e amigos se sentissem à vontade. Com isso, as áreas de lazer e de uso comum foram privilegiadas. “Era importante que o aconchego não se perdesse em uma edificação grande demais”, diz Maurício.
A implantação foi eficaz no terreno de cerca de 3 mil m², quase regular e sem intervenções dos profissionais – manter o desenho dos lotes é uma das premissas do escritório. Sendo assim, a casa ganhou três pavimentos: no subsolo, ficou o spa, com sauna e hidromassagem; o piso térreo concentrou os ambientes sociais e duas suítes para hóspedes; e outras três, além de uma sala íntima e um escritório, foram destinados ao pavimento superior. Os conceitos de biofilia e sustentabilidade permearam todo o projeto. “Empregamos estruturas de madeira laminada colada (MLC), porque não geram resíduos, tornando a obra mais limpa e reduzindo o uso de água”, conta o arquiteto. MLC é um material estrutural fabricado com segmentos de madeira colados com adesivos de resina de melamina ou poliuretano. Produzido fora do canteiro de obras, chega pronto para a montagem e, no imóvel, foi empregado na laje do pavimento superior e na cobertura, que acomoda painéis solares.
Outros recursos, no mesmo pavimento, economizaram água durante a construção, caso das paredes internas de drywall e das externas, feitas de blocos de concreto celular, um sistema simples e eficiente. O material apresenta bom isolamento térmico e acústico. No pavimento superior, o teto exibe placas OSB, sigla para Oriented Strand Board – o material é econômico e versátil, feito de lascas de madeira coladas e comprimidas. A arquitetura se integrou à paisagem, seja pela acertada inserção do volume no terreno, seja pelas grandes aberturas e pelos vidros, que desnudam a natureza para os interiores.
Junto aos quartos do casal e dos filhos, fica uma ampla varanda, voltada para os fundos, onde pequenos jardins brotam do chão – o piso cimentício elevado garantiu espaço para as áreas verdes embutidas. Grandes beirais também ajudam a minimizar o calor e, como consequência, a necessidade de ar-condicionado.

O volume da lareira, com obra de Bruno Vilela, divide a sala de TV, ao fundo, e a de estar, com dupla de poltronas Gio, do mestre Sergio Rodrigues. O grande tapete estende-se pelo living e amarra o conjunto. Lambri de perobamica reveste o forro.
Sem encontrar nas lojas de móveis a mesa ideal para a sala de jantar, os arquitetos projetaram a peça, empregando, nela, cumaru. As cadeiras Collana são de Adolini+Simonini, e o pendente Pindorama, de Maneco Quinderé. Na parede, obra de Nuno Ramos. O piso é de porcelanato e os degraus da escada, de peroba-mica.

A dupla de arquitetos teve liberdade para cuidar de cada detalhe: da implantação da casa no terreno até a produção final dos interiores, incluindo projetos de marcenaria e da mesa de jantar. Para manter a uniformidade entre os ambientes, a área social e o spa receberam piso de porcelanato de grande formato, no tom areia. Nos quartos, a escolha recaiu sobre a peroba-mica, mesma madeira presente no teto do térreo, que se harmoniza com o vigamento da estrutura de MCL. Vale ressaltar a lareira suspensa, entre as salas de estar e TV, com volume revestido de textura artística e abrigando a estante do home theater, forradas de réguas de muiracatiara, assim como as paredes, com tratamento shou sugi ban – técnica japonesa de carbonização da madeira por meio do fogo.
É no térreo que a turma se reúne para preparar pratos especiais na gostosa cozinha gourmet, que ganhou forração de trançado de dendê, sob a cobertura de vidro, para filtrar a luminosidade natural. Quanto à decoração, elegeu-se móveis de design nacional de formas limpas e cores claras, para conferir leveza. Alguns dos destaques são: as poltronas de balanço Astúrias, de Carlos Motta, na varanda; a dupla de poltronas Gio, do mestre modernista Sergio Rodrigues (1927-2014), no estar; e o sofá Boomerang, de Brunno Jahara, no home theater. “A escolha dessas peças não foi propriamente um pedido dos proprietários, mas se desenrolou assim porque o Maurício e eu temos um olhar atento sobre o mobiliário brasileiro”, conta Alice. Idealizado para enfatizar a conexão com o entorno, o paisagismo leva a assinatura de Daniela Infante. “A ideia era ter jardins com uma proposta tropical, visto que a residência está em uma área rica de Mata Atlântica.” Espécies com diferentes tons de verde e formatos, como helicônias, filodendros e palmeiras, cumprem esse papel, emoldurando a piscina com desenho orgânico e deque feito de cumaru, madeira escolhida por sua resistência e tonalidade. Dali, é possível avistar o rio que corre na propriedade – verdadeiro refúgio da família em feriados e finais de semana.
“Era importante que o aconchego não se perdesse em uma edificação grande demais” Maurício Magarão Arquiteto.
O desnível no terreno permitiu a criação do pavimento do subsolo, onde fica o spa, com portas de vidro que dão para o deque de cumaru. Na varanda do piso térreo, o banco de concreto substitui um guarda-corpo.

Arquitetos Maurício Magarão e Alice Lindenberg – @magarao_lindengerg_arq