Abraçada pela Mata Atlântica, se materializa a partir da sobreposição de cinco pavimentos, numa alusão à ideia de casa na árvore

Idealizada como um refúgio de veraneio, é num privilegiado condomínio residencial no Guarujá – cidade localizada a cerca de 100km da capital paulistana –, que o projeto para a Residência VJC emerge como um oásis abraçado pela Mata Atlântica.

Com projeto de arquitetura encomendado ao arquiteto David Bastos (DB Arquitetos), o terreno de declive acentuado impunha o desafio em como pousar delicadamente a casa, e para que esta ficasse completamente integrada à vegetação nativa. Com isso em mente, após oito anos desde o traço inicial até a conclusão, o novo lar se materializa a partir da sobreposição de cinco pavimentos responsáveis pela distribuição do programa.

Propondo a inversão da tradicional organização programática, neste projeto, a ala íntima é disposta nos pavimentos inferiores – resguardados pelo maciço vegetal e de onde há maior quietude –, enquanto a ala social e de lazer é alocada nos níveis superiores, na altura da copa das árvores e por onde fendem aberturas que emolduram a paisagem litorânea.

Na etapa de finalização dos interiores, o projeto de decoração é capitaneado pela arquiteta Marina Salles (Marina Salles Arquitetura e Interiores) – quem também esteve a cargo do processo de renovação dos interiores da casa principal do casal de proprietários, em São Paulo.

Um convite à imersão, a proposta tira proveito da dupla camada que envolve a morada, desde a paleta de matérias-primas naturais aplicadas sobre o embasamento, até a fronde do arvoredo – em alusão à ideia de casa na árvore –, ao sugerir um abrigo. Uma pausa à frenesi urbana, este é o local ideal para desacelerar, valorizando o estilo de bem-viver.

Dedicado essencialmente ao lazer, no último pavimento, as salas de estar, jantar e cozinha se fundem à varanda, solário e piscina, desfrutando de momentos de introspecção e calmaria. Gradualmente, o cenário que abraça a residência vai sendo revelado, através de generosos panos de vidro que emolduram a vista que se descortina no horizonte, como uma tela em constante metamorfose.

Privilegiando a interação e os momentos partilhados entre os familiares e amigos do casal de moradores, o layout da sala de estar se volta ao centro do ambiente, enquanto a transparência das esquadrias traz visualmente a flora ao interior. No mobiliário prevalece a mistura de peças: existentes da família, novas de design brasileiro, garimpadas de madeira maciça, e outras desenhadas por Marina Salles especialmente ao projeto.

No conjunto, o par de sofás, confeccionados pela Jocal, soma-se a dupla de poltronas Gray 07, da designer italiana Paola Navone para a Gervasoni (Casual Móveis) – em lona impermeável da Ecosimple para proteção à ação da maresia –, poltrona de ratan Xangai (Amazônia Móveis), bancos indígenas CASA VJC IPORANGA (Dpot Objetos), par de mesas de apoio com encaixe (assinadas pela arquiteta), além de baú, aparador, mesas lateral e de centro em madeira de demolição, garimpados e encomendados para uma marcenaria em Tiradentes, Minas Gerais.

Ressignificando os usos, as peças garimpadas e carregadas de histórias assumem novas funções: o aparador dá apoio ao bar, enquanto o baú transforma-se em mesa lateral.

A casa está em constante movimento, orgânica assim como os moradores que a habitam. Para isso, a escolha por peças mais leves facilita a reorganização do layout, quando desejado. Um alento aos dias mais frios, a lareira suspensa propõe momentos de leitura.

Vestindo o ambiente, o mobiliário é disposto sobre tapete impermeável (Clatt), e a cor é introduzida através dos acessórios e peças decorativas, como as almofadas, cerâmicas e vasos.

Na sala de jantar, a mesa em madeira maciça, desenhada pela arquiteta e executada pela Prime Marcenaria, é composta por conjunto de cadeiras Gana (Franccino Giardini) – tramadas artesanalmente em corda e tecido resistente à umidade –, assentando confortavelmente até 10 pessoas.

Privilegiando a paisagem que surge emoldurada nos dois lados – o primeiro através dos amplos caixilhos de madeira e vidro que demarcam toda a circulação vertical, e o segundo para a varanda –, o projeto luminotécnico, assinado por Lightworks, evita barreiras no campo de visão de quem está sentado à mesa, de modo que o tradicional uso de pendentes dá lugar à luminária Canoa, de autoria do mesmo escritório. A peça, cujo desenho faz referência às típicas embarcações do litoral brasileiro, possui sistema de iluminação contínua, e a ausência de lâmpadas aparentes confere um visual delicado.

Na quina para onde converge o conjunto de caixilhos recolhidos, e que por sua vez determina um “L” protegido envolto pelo verde, o posicionamento da mesa Canela (em madeira maciça torneada, por Fernando Prado para Dpot) sugere um espaço de apoio para jogos e rápidas refeições. Ainda no conjunto, cadeiras (Amazônia Móveis) protegidas por capa de lona impermeável (Ecosimple), e luminária de piso da Olho Móveis. O toque final fica por conta das cerâmicas e arranjos em vasos de barro.

À sombra do pergolado em madeira rústica, a varanda gourmet surge integrada às salas de estar e jantar, ecoando o ponto de contato à natureza: em sintonia às materialidades encontradas nas superfícies da arquitetura, a mesa em tora é rodeada por conjunto de cadeiras do mesmo modelo daquelas encontradas na mesa de jantar, reforçando a continuidade entre o dentro e o fora; enquanto no estar externo, sofá e poltrona da Taúna com tecido Sunbrella, dupla de pufes da linha Acqua da Nani Chinellato, e mesa de centro em madeira, acompanham par de espreguiçadeiras – existentes dos clientes e trazidas do endereço principal.

Uma ode ao clima litorâneo, nesta residência a paleta de materiais naturais busca traduzir os conceitos de aconchego e leveza. Na arquitetura, placas de granito recobrem os pisos do interior e deck da piscina, enquanto a madeira é aplicada nos ripados dos painéis, forro e brises perimetrais em Cumaru. Na decoração, a mistura de peças em madeira, linho, palha, vime e cerâmicas, sugere a simplicidade despojada de uma autêntica casa de praia, sem se esquecer da fácil manutenção e durabilidade à ação do tempo e da maresia.

Estimulando a vivência integrada à natureza, no terraço a inexistência de fechamentos intensifica a relação dos moradores com a paisagem, como um mirante de onde é possível avistar o mar acima da copa das árvores.

Em apoio à contemplação, o conjunto de poltronas Astúrias Fixa, com desenho do designer brasileiro Carlos Motta, acompanha baús de madeira de demolição para um lounge direcionado à enseada. No lado oposto, voltado à copa das árvores, a daybed (por CR Santos Tapeçaria) privilegia o repouso sob a luz do sol.

Acolhimento e serenidade definem a ala íntima. Para isso, a seleção de materiais do projeto original de interiores valoriza a experiência. Nos dormitórios, a dualidade dos painéis ripados de madeira que envolvem as fachadas, ora atuando como guarda-corpo (fixos a meia altura), ora como brises em sistema de abertura tipo camarão, adicionam uma camada de proteção.

Na decoração, os enxovais obedecem as nuances encontradas na paisagem, em tons de cru, verde e azul, e as capas de algodão dos travesseiros e peseiras foram especialmente produzidas pelo Estúdio Avelós. Na suíte máster, poltrona Xangai (Amazônia Móveis) em estrutura de Tauari e vime, adornada com almofada (Dpot Objetos) e cesto de fibras naturais para o armazenamento de mantas.

Com apreço aos detalhes, cada uma das suítes ganhou a personalização dos enxovais, incluindo bolsa de praia, roupão de banho, e toalhas – bordados com ilustrações de tema náutico, especialmente esboçados por Marina Salles, e desenvolvidos por um fornecedor especializado. As cores seguem aquelas aplicadas nas roupas das camas.

Também protegido pelos brises ripados de madeira, no home theater, cortinas de linho filtram a luz natural quando os painéis estão abertos. O convidativo estofado em linho se contrapõe harmoniosamente à tapeçaria listrada nas cores laranja e verde. Na parede, composição de cestos de palha criam um grafismo à superfície e valorizam o trabalho artesanal local.

Arquitetura e Design de Interiores: DB Arquitetos

Decoração: Marina Salles Arquitetura e Interiores