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- Construção Sustentável
1 de outubro de 2016 - Texto: Sandro Prezotto Há alguns anos, o Brasil busca se transformar em referência mundial em construção sustentável, como mostra esta nossa entrevistada Várias iniciativas voltadas para a solução de problemas crônicos nas grandes cidades apontam para a consolidação de um novo paradigma na área. Esse mercado tem trazido à tona alguns temas, como eficiência energética, uso racional da água, técnicas construtivas inovadoras e novos materiais que favorecem o conforto e o bem-estar. Para saber mais sobre o tema construção sustentável, conversamos com a arquiteta urbanista Patricia O’Reilly . Graduada pela Universidade Belas Artes São Paulo, Patricia é titular do Atelier O’Reilly Architecture & Partners, com sede em São Paulo, escritório composto por uma equipe de profissionais especializados em arquitetura, urbanismo, paisagismo, meio ambiente, sustentabilidade e energia. Habitare: Como surgiu sua relação com a arquitetura sustentável? Patricia O’Reilly: Em uma sociedade em que o respeito pelo meio ambiente é indiscutível, penso que o arquiteto pode atuar no sentido de oferecer alternativas que garantem uma relação saudável e holística com a natureza e o entorno. Acredito que é possível gerir os recursos naturais por meio de um conceito contemporâneo de arquitetura que adquire sua forma pelo entendimento de estratégias sustentáveis capazes de atender às necessidades e desejos da sociedade ao mesmo tempo em que respeita a harmonia com o meio ambiente. H: Quando a sustentabilidade passou a fazer parte dos seus projetos? P: Em minha atuação profissional, sempre considerei os aspectos ambientais, sociais e econômicos ao desenvolver soluções e projetos. Atualmente, empreendedores e empresas estão atentos para a forma sustentável de fazer arquitetura, principalmente em função de uma necessidade global crescente, um pensamento que precisa integrar a edificação ao seu entorno para utilizar melhor os recursos naturais e os potenciais de cada empreendimento. H: Quais iniciativas com esse perfil você destaca? P: Atualmente estou desenvolvendo um projeto que se chama CASA 88°, um trabalho pioneiro em arquitetura sustentável holística, com uma equipe multidisciplinar, inovação tecnológica e grau máximo de eficiência em todas as fases de vida da edificação: projeto no papel, escolha de materiais, obra, uso com indicadores de desempenho mensuráveis, manutenção e retorno dos materiais à natureza. Outro projeto que estabelece um dos tripés da sustentabilidade, o social, como ponto fundamental é o Mirante do Gavião Amazon Lodge, que foi construído no coração da floresta amazônica em Novo Airão. H: O que foi privilegiado na CASA 88º? P: Concretizada pelas empresas consorciadas Atelier O’Reilly Architecture & Partners, Gaia Construtora, MADO Janelas & Portas e Rewood Madeira Laminada, a CASA 88º integra conhecimento e inovação tecnológica aos aspectos econômicos, ambientais, sociais e culturais. No projeto, localizado no condomínio Fazenda Boa Vista, valorizamos a utilização de materiais ecológicos, certificados e reciclados; reduzimos o impacto ao entorno e ao meio ambiente; melhoramos a eficiência térmica, acústica e energética para atingir excelência em desempenho, conforto e qualidade de vida aos moradores. A obra conta ainda com três câmeras de vídeo, que permitirão assistir ao vivo à construção em todas as suas etapas. H: Alguns empreendimentos buscam o selo sustentável para parecer bem aos olhos do público. O que você acha dessa tendência e até que ponto ela é verdadeira? P: Acredito que apenas por existir já impactamos o meio, portanto não há como falar em ser 100% sustentável. Sendo assim, sempre vamos buscar maximizar o impacto positivo e minimizar o impacto negativo, por exemplo, recuperando a mata nativa de um terreno. O custo depende do percentual de sustentabilidade desejado. É possível fazer uma construção sustentável em graus diferentes, de acordo com as necessidades de quem vai ocupar aquele espaço. Com o uso de recursos e tecnologias já disponíveis no mercado é possível inovar e ser sustentável unindo respeito ao meio ambiente e viabilidade econômica. H: Para o usuário comum, que recursos podem ser incluídos para contribuir com esse aspecto? P: Cada projeto tem suas características e especificidades. O ideal é criar soluções de acordo com as necessidades de cada empreendimento, seja este residencial, corporativo ou comercial. De qualquer modo, soluções em tecnologia e sistemas construtivos que possam viabilizar uso racional de água, materiais e energia devem sempre ser considerados por qualquer pessoa que busca por resultados sustentáveis em construções. H: Quais as oportunidades e desafios do segmento? P: Temos feito um trabalho importante e daqui para frente acredito que a sustentabilidade estará definitivamente presente em projetos de arquitetura e urbanismo exatamente por atender a uma necessidade crescente de empreendimentos que consideram aspectos ambientais, econômicos e sociais em equilíbrio. A grande oportunidade é que o próprio planeta já reclama visivelmente por soluções menos impactantes e, sendo assim, impulsiona os especialistas e a indústria a buscar soluções imediatas para uma construção sustentável. O maior desafio é alcançar um sobrecusto baixo em função da aplicação de estratégias sustentáveis, e consequentemente melhorar o tempo de amortização dos investimentos necessários para alcançar resultados realmente significantes. Um bom exemplo é a Casa 88°, que alcançou uma economia de 49% de energia, com um sobrecusto de 2% e uma amortização de 4 anos. Casa 88º www.casa88graus.com.br Atelier O’Reilly www.atelieroreilly.com.br
- Benedito Abbud, Arquiteto e Paisagista
19 de outubro de 2016 - Texto: Sandro Prezotto | Fotos: Divulgação Benedito Abbud projetou o Estádio Nacional de Brasília, que conta com uma solução inovadora para o aproveitamento de água da chuva Em conversa com a Revista Habitare, ele fala mais sobre esse tema, fundamental para o desenvolvimento de projetos que valorizam premissas de sustentabilidade na construção civil, além de outros trabalhos, que buscam resgatar a importância da presença do verde na paisagem urbana e viabilizar o uso racional dos recursos naturais. Habitare: Como surgiu sua relação com o paisagismo? Benedito Abbud: No primeiro ano da FAU-USP, comecei a estagiar no escritório de paisagismo do arquiteto Luciano Fiaschi. Nessa fase, descobri um novo universo e suas novas possibilidades. Fiz todo o meu curso de Arquitetura com foco nessa disciplina, tornei-me monitor e depois fiz pós-graduação, mestrado e me tornei professor dessa importante escola. Meu escritório de arquitetura paisagística conta hoje com aproximadamente 6 mil projetos em praticamente todos os estados do Brasil e alguns em outros países. Esses trabalhos abarcam diferentes escalas, desde o paisagismo residencial até o urbanismo de cidades com a visão do paisagismo. Em 2006, lancei o livro Criando Paisagens, que já vendeu quase 20 mil exemplares. H: Qual a importância do paisagismo e sua função para os diversos tipos de projetos? B: Com o crescimento contínuo das cidades, o paisagismo torna-se cada vez mais importante e valorizado. Na década de 80, criamos um novo conceito para os empreendimentos residenciais e vendemos para as incorporadoras a ideia de que o lazer seguro dentro dos condomínios era objeto de desejo dos compradores. Empreendimentos comerciais também começaram a se preocupar com sua aparência e nela incluímos verdadeiros oásis para que o local de trabalho se tornasse diferenciado e mais agradável. H: Destaque alguns dos principais projetos de sua autoria. B: Brascan Century Plaza (São Paulo), conhecido como Kinoplex; Parque Jefferson Perez (Manaus); Praça Victor Civita (Praça da Sustentabilidade, em São Paulo); Entorno do novo Estádio Nacional de Brasília; Master Plan da Vila dos Atletas (sede dos atletas para as Olimpíadas do Rio de Janeiro), primeira certificação LEED ND no Brasil. H: Quando as questões de sustentabilidade começaram a fazer parte dos seus projetos e qual a importância atual dela quando você começa a pensar em um novo projeto? B: Para mim, a preocupação com a sustentabilidade social veio até antes da ambiental. Sempre acreditei que o paisagismo pudesse melhor qualificar as áreas externas trazendo sombra, ventilação, minimizando a poluição, o ruído para as pessoas. É claro que tudo isso também contribui com o meio ambiente. Em 2006, preocupado com as enchentes de São Paulo, criei, juntamente com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), os pisos permeáveis para as calçadas, que levam a água das chuvas para a terra, alimentando o lençol freático. Em 2010, criei o Tec Garden para jardins sobre lajes, um sistema que reserva diretamente a água de chuva para irrigar os jardins por capilaridade, sem uso de energia ou bombas. Tudo isso, somado a muitos projetos com certificação LEED, fez com que ganhássemos o Prêmio Greening de 2013 como escritório sustentável do ano. H: Como o paisagismo pode ser usado em favor da população nas cidades? B: A vegetação traz muitos benefícios para as cidades, entre eles, destaco: Ameniza a temperatura reduzindo a amplitude térmica; Minimiza a poluição e as ilhas de calor; Harmoniza a paisagem construída das ruas; Traz conforto físico e psicológico, adequando a escala humana aos edifícios; Melhora o sombreamento, a ventilação e a brisa; Traz cores, aromas, frutas e beleza. H: Como foi o projeto do novo Estádio Nacional Mané Garrincha, de Brasília? B: Em parceria com a Fluxus Design Ecológico, elaboramos uma solução que combina sistemas urbanos de drenagem sustentável, integrando elementos como biovaletas e jardins de chuva, ao desenho paisagístico. Aproveitamos para projetar um novo parque esportivo como continuação dos espaços verdes já existentes: Parque da Cidade, o cemitério, Autódromo e a futura ampliação Norte do parque da cidade. Essa mancha horizontal de maciço arbóreo (mais o eixo monumental, vertical, que será revitalizado com um novo projeto paisagístico do escritório Burle Marx), desenhará uma nova cruz verde que reforçará a cruz urbana traçada pelo grande urbanista Lucio Costa. O projeto tem sido referenciado como um modelo de como implantar 7.000 vagas de veículos, sem impedir que toda gota de água de chuva que caia sobre o terreno seja reutilizada para os sanitários, irrigação, infiltração no lençol freático, tudo contribuindo para minimizar o microclima, extremamente seco, da capital federal. Foram utilizadas cerca de 5 mil árvores nativas com florações e frutificações diferenciadas, que vai melhor muito a paisagem desse trecho do Eixo Monumental. H: Qual a importância do LEED e de outras certificações para o meio ambiente? B: Embora a certificação ambiental seja muito importante e tenha ajudado a melhorar em muito a qualidade dos projetos, não podemos nos esquecer da sustentabilidade social. Sem as pessoas, as cidades não teriam sentido. O novo Plano Diretor de São Paulo, recém-aprovado, vai incentivar a criação de miniparques e áreas de fruição urbana. Recentemente, a Prefeitura paulistana aprovou a lei dos parklets e dos food trucks. Creio que todas essas medidas melhorarão muito a vida do paulistano. www.beneditoabbud.com.br
- Hotel Tierra Patagonia – O espírito do extremo sul
27 de junho de 2016 - Texto: Tiana Ribeiro | Fotos: Divulgação O Hotel Tierra Patagonia combina luxo e arquitetura orgânica numa das paisagens mais encantadoras do sul do Chile, o Torres del Paine Apresento-lhes aqui um dos hotéis mais fantásticos que já vi, combinando luxo e arquitetura orgânica, um ambiente quentinho e aconchegante a nos receber após horas de caminhadas pelas deslumbrantes paisagens da Patagônia, uma língua de terra espremida entre os oceanos Atlântico e Pacífico. O hotel está localizado na extremidade sul do Chile, dentro do Parque Nacional Torres del Paine, que foi declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1978. No fim do mundo, ou quase. A arquiteta chilena Cazú Zegers , especializada em arquitetura orgânica, assina o projeto junto com Rodrigo Ferrer e Roberto Benavente . “Minha primeira reflexão foi como construir um prédio neste lugar sem prejudicá-lo e, se possível, potencializar o lugar com o edifício. Passamos o dia percorrendo o lugar, fazendo desenhos e entendendo como era a região. Havia pequenos morros e muitas formas desenhadas pelo vento. Percebi que a energia mais forte ali era a desse elemento natural e que o hotel teria que ser concebido a partir de formas que o vento desenha” , diz Cazú. O resultado se concretizou em apenas dois andares: visto de fora ele parece camuflar na paisagem, humildemente, apenas contemplando o cenário à sua frente: o lago Sarmiento e o maciço Torres del Paine, o mesmo cenário que podemos ver de todos ambientes internos, salas de descanso e leitura, restaurante, piscina, spa e até dos seus 40 quartos, que, aliás, não têm TV! – pra quê? Tudo nele foi pensado para incluir sem agredir, aproveitando todos os materiais que a região oferece, até porque a cidade mais próxima dali está a mais de uma hora, fazendo com que os 300 operários envolvidos na obra tivessem que ficar em um acampamento, enfrentando frio e vento de até 120 km/h, inclusive, esquentando a água para fazer o concreto a fim de evitar fissuras. Sua estrutura é de concreto armado, com teto em vigas de pinho laminado e tábuas de lenga (uma madeira típica da região). A cobertura térmica do Tierra Patagonia, feita em poliestireno expandido, possibilita uma temperatura mais agradável em seu interior, chegando a uma diferença de 9 graus. Toda a terminação é em lenga lavada para conseguir a coloração prateada característica das madeiras desgastadas pela água, como fica no inverno. No interior também há muita madeira nos móveis, pisos, vigas, suportes e até troncos da lenga em estado bruto, rendendo homenagem aos mapuche, povo originário do local. O projeto de decoração, assinado pelas designers Alexandra Edwards e Carolina Delíano , inclui peles e tecidos fabricados com lã das ovelhas e com desenhos tehuelches (de indígenas que ali viviam). Há uma enorme canoa kaweskar (também nativos) que flutua sobre o espaço que divide áreas de convívio com os quartos ou spa, nos convidando a uma viagem de relaxamento. Uma grande lareira no centro da área de convívio nos mantém aquecidos enquanto apreciamos as belezas do entorno, programamos os passeios do dia seguinte ou mesmo nos deliciamos com a alta gastronomia servida com pratos típicos da região e enobrecidos pelos toques do chef do Tierra Patagonia. O sistema é all inclusive , com extensa lista de vinhos, bebidas típicas – não deixe de experimentar o Pisco Calafate, o tradicional Pisco Sour com licor de Calafate, frutinha vermelha da região. Há ainda um menu vegetariano disponível diariamente. O Uma Spa oferece banhos a vapor, sauna, piscina aquecida, hidromassagem, cascata e uma jacuzzi ao ar livre, além dos tratamentos e massagens relaxantes. Só pelo hotel já vale a viagem. Mas a filosofia do Tierra Hotels pede mais: “Heredamos una tierra sagrada y la cuidamos para sea un legado. Sé parte de este viaje.” , então ele nos oferece inúmeras excursões para integração e exploração do meio, desde as mais leves até longas caminhadas de um dia inteiro, a pé, a cavalo, de bicicleta, tudo conforme o fôlego aguenta. As visitas são a montanhas, pampas, florestas, geleiras, rios, lagos e cachoeiras, todas elas acompanhadas por experientes guias, ensinando-nos a identificar pássaros, plantas e animais – há guanacos e ovelhas por todos os lados –, além de nos paparicar com lanchinhos e calafatinhas (cerveja!) quando a caminhada exige um pouco mais de esforço. “Fizemos tudo para que as pessoas tivessem a chance de realmente vivenciar o lugar. O hotel acaba servindo como um apelo sensível para o homem contemporâneo, urbano, que está superdomesticado e, por isso, não pode estar sempre à intempérie, possa curtir de maneira confortável essa natureza mística e poderosa do Torres del Paine” , diz a arquiteta Cazú Sengers. O hotel só funciona de setembro a abril, quando as temperaturas são mais amenas. Para chegar lá, voamos até Santiago (quatro horas) e depois para Punta Arenas (quatro horas e meia). Lá uma van já nos esperava, com lanchinho e tudo, para mais quatro horas e meia de estrada. É, o fim do mundo é longinho, mas garanto que vale a pena conhecer! Fui e voltei com as energias renovadas, guardando na lembrança imagens e sensações de um dos lugares mais bonitos do planeta. Hotel Tierra Patagonia – www.tierrahotels.com – telefone 0800.761.1627 (número no Brasil)




