Santiago Calatrava Valls, nascido em Valência, um artista e escultor. Formado em Arquitetura e Engenharia, com doutorado no ETH de Zurique
Nascido em 1951, hoje possui dois escritórios na Europa e um em Nova Iorque, que produzem obras com um tom de fantásticas, nunca passando despercebidas. Amado ou odiado, as críticas elaboradas sobre sua obra não ficam em meio termo.
Planetário de Valência – Foto: Emilio García
Tornou-se conhecido mundialmente, por introduzir no campo da arquitetura e da engenharia, o projeto de pontes elaboradas que ultrapassam a função simples de conectar um local ao outro. Estas estruturas, que geralmente lembram harpas brancas, presenteiam o espaço com elegantes traços artísticos contemporâneos que parecem desafiar a gravidade. Aqui no Brasil, qualquer viaduto ou ponte é chamado tecnicamente de “obra de arte”, pode-se dizer que essa qualidade é elevada ao extremo nos projetos deste espanhol. Para efeitos surpreendentes, ele se utiliza de elementos quase sempre bancos, tirando partido da beleza das estruturas e dos suportes, com novos modos de estaiamento em formato de arcos e tirantes, saindo da mesmice que é o sistema comum com pilar e viga.
Sua carreira decolou em meados de 1987, quando projetou em Barcelona a ponte Bac de Roda. Foi considerada como ponto de partida para os grandes projetos olímpicos na cidade, e é composta por quatro arcos inclinados que sustentam uma cortina de tirantes, com quatro faixas de tráfego de veículos e duas pistas para pedestres e bicicletas. Esta espécie de “harpa” branca gigante influenciou a estética de muitas pontes construídas pelo mundo a partir daí, com sua autoria ou não.
Outros projetos famosos do arquiteto são: a impressionante ponte atirantada de Alamillo em Sevilha (1992) que vence um vão de 200 metros, e foi construída com a maior grua existente no mundo; a passarela Zubizuri em Bilbao (1997), que não agradou a população, pois seu piso de vidro é escorregadio no clima úmido da cidade; a passarela de Puerto Madero na Argentina (2000), que é rotatória e permite a passagem de navios; a passarela Turtle Bay na Califórnia (2009), onde o mastro aponta para o norte e funciona como um gigantesco relógio de sol, mas demorou dez anos para ser construída.
A ponte sobre o Grande Canal de Veneza, inaugurada em 2008, também é um foco de polêmicas. Desde que o projeto foi aprovado, passou por inúmeras mudanças em sua estrutura, devido à instabilidade mecânica e ao excessivo peso próprio. Em dez anos de construção, foi inspecionada por 8 construtoras diferentes e seu custo triplicou em relação ao orçamento original. Atualmente, o governo italiano está processando o arquiteto pelos erros no projeto e orçamento, que já levaram a um dispêndio enorme de dinheiro público, e ainda não cessaram devido aos altos custos de manutenção da estrutura que possui patologias construtivas.
Ponte sobre o Grande Canal em Veneza Foto: WJournalist
Os projetos de espaços edificados são igualmente impressionantes, Calatrava foi responsável pela construção dos aeroportos de Bilbao e de Lion, e pela Gare do Oriente em Lisboa. Para sua cidade natal, o arquiteto caprichou no projeto da Cidade das Artes e das Ciências, um complexo de lazer e aprendizado que parece ter saído de um filme de ficção científica. O primeiro prédio entregue à população foi o Planetário (2000), que se assemelha a um olho gigante que se transforma em globo através de seu reflexo na água.
Museu de Ciências em Valência Foto: Del Leone Aiolia
Depois veio o Museu de Ciências (2000), que lembra um esqueleto pré-histórico, criado a partir da repetição das estruturas transversais. O último edifício entregue à população foi o Palácio das Artes (2005), que abriga um teatro com 1300 lugares, uma escola de música e administração, desenhado como uma série de volumes randômicos, que parecem unificados através de duas conchas simétricas. Todas as construções possuem estrutura mista em concreto branco e metal, e em diversos locais existe revestimento com caquinhos de cerâmica, como referência a Gaudi e a indústria do material, tradicionalíssima na cidade.
Palácio das Artes em Valência – Foto: Diliff
Hoje o arquiteto investe seus esforços na América, conseguindo diversos projetos nos EUA. No Brasil, projetou o Museu do Amanhã, que está em construção no Porto Maravilha, nome dado ao projeto de reurbanização da região portuária do Rio de Janeiro. O espaço, que promete abrigar exposições com experiências sobre o uso dos recursos naturais e o futuro nacional, também vai possuir itens sustentáveis, como aproveitamento das águas e da energia do sol.
Museu do Amanhã
Foto: Divulgação Prefeitura do Rio de Janeiro/Fundação Roberto Marinho
A carreira de Calatrava é recheada de projetos delicados e ao mesmo tempo poderosos, sempre com acabamento alvo. A inspiração do arquiteto para compor espaços tão diferentes vêm da observação de estruturas existentes na natureza, como asas de insetos, pássaros, formações da botânica – que o artista amplia, rotacional e geometriza. Se por um lado cria obras belas, as críticas atacam o frequente estouro de orçamento e atrasos nos cronogramas, além de falhas na escolha dos materiais em favor da estética, ou problemas como falta de visão do palco, saídas de emergência inadequadas e acessibilidade ruim. A permanente tensão entre dinâmica e equilíbrio parece estar resolvida na estética de suas obras, mas não totalmente equacionada no seu percurso profissional.
Arquiteta Francine Trevisan – www.francinetrevisan.com.br