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Memória entre sabores

Atualizado: 24 de abr.

Sensação do momento na capital fluminense, o Elena tem cinco ambientes, divididos em dois andares


Para quem consegue reserva no concorrido Elena, instalado em um casarão de cerca de 500 m² na rua Pacheco Leão, 758, a primeira parada é no bar: ampla sala dominada por um balcão circular cercada por banquetas de couro. Ali, começa a degustação dos drinques preparados pelo premiado mixologista Alex Mesquita e a imersão nas projeções de videoarte assinadas pelo multimídia Batman Zavareze (responsável por shows como os de Marisa Monte e Los Hermanos, além da concepção da festa de posse do presidente Lula), que se intercalam estampando as paredes revestidas de pedras originais – o que demonstra o esforço em manter os materiais de mais de 100 anos.


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Em seguida, chega-se ao salão intimista e sofisticado, com assentos sinuosos, como os proprietários sugeriram à Bernardes Arquitetura, autora do projeto. “Eles queriam um local levemente sexy, noturno, e chegaram com inúmeras referências garimpadas pelo mundo. Aos poucos, fomos filtrando as ideias e buscando uma linguagem própria, inserida no contexto do bairro, que é um local ainda preservado, bucólico, e que dialoga com o Jardim Botânico, localizado em frente”, explica Antonia Bernardes, sócia do escritório e diretora da equipe de decoração. O verde e o cobre são as cores predominantes, em alusão à geografia local. Tons que tingem o nobuck, o couro e a lona dos estofados – além de parte dos revestimentos e a fachada.



O paisagismo, assinado por Cristina Mendes, se faz abundante, como uma moldura: ora ele cobre o teto do restaurante, com plantas desidratadas que criam uma farta textura orgânica, ora ele está em vasos que pontuam os ambientes, da entrada, na rua, ao terraço, no segundo piso, com teto retrátil e vista para o Cristo Redentor. “Queríamos que a arquitetura valorizasse a parte antiga, sem se sobrepor à mesma ou tentar imitá-la. A ideia da vegetação veio sob medida para mimetizar a construção ao entorno do Horto”, reflete Francisco Abreu, responsável pela elaboração e desenvolvimento do projeto. “Aqui, trabalhamos lado a lado ao IRPH, órgão da prefeitura responsável pelo Patrimônio Histórico, para não descaracterizar a edificação. A fachada foi completamente recuperada nos moldes originais e o anexo, que era um puxadinho, foi incorporado de forma neutra e discreta, com grandes painéis de vidro”, acrescenta ele.



Um dos pontos altos do lugar é a iluminação, desenvolvida sob medida pela Lightworks com a orientação do escritório de arquitetura. Quase todas as luminárias usadas foram criadas especialmente para o espaço e imprimem uma atmosfera intimista. “À primeira vista, o restaurante parece escuro, mas aos poucos as pessoas percebem que o foco está nos pratos e não no ambiente. Outro ponto importante foi que usamos as projeções do Batman também no corredor e no banheiro – ambos locais parecem instalações artísticas”, afirma Antonia.



A escada, moldada em chapa metálica, também ganha diferentes colorações de acordo com o mood do dia: “ela tem a presença de um elemento escultural”, diz. Além da “arquitetura de experiência”, como é possível definir o projeto, há ainda os sabores. O cardápio foi desenvolvido por Itamar Araújo, ex-Mee – restaurante com uma estrela Michelin, no Belmond do Hotel Copacabana Palace. O chef se inspirou em toque orientais, com uma combinação de pratos pesquisados na Tailândia, em Cingapura, Hong Kong, Japão e Coreia. “Estudei muito para traduzir aqui toda a riqueza destas técnicas milenares da culinária”, diz ele, destacando os pescados e as carnes preparadas no forno de carvão. Por sinal, a cozinha é a única área do Elena que tem uma luz mais intensa, e fica envidraçada, aberta para o salão. Impossível não se deixar hipnotizar com o movimento enquadrado nessa tela viva e mutante, como uma performance repleta de fumaças, texturas e nuances. Um verdadeiro show à parte.


Bernardes Arquitetura – @bernardesarq

 
 

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