Apê de Colecionador
- Revista Habitare
- 22 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de abr.

O imóvel dos anos 1960, na praia de Ipanema, foi reformado para privilegiar o mobiliário modernista e abrigar as obras de arte do proprietário
De frente para o mar de Ipanema, com as esquadrias da sala emoldurando coqueiros e amendoeiras da orla, o imóvel encantou as arquitetas Luiza Bottino e Valeska Ulm, da ATI Arquitetura, não só pela vista, mas também pela possibilidade de adaptações dos espaços. O desejo do proprietário, que usa o apartamento nas suas frequentes temporadas cariocas, era criar, especialmente no estar, uma configuração fluida e uma base moderna e limpa, para abrigar a coleção de arte popular brasileira. “Ele adora buscar novos artistas e o acervo vinha crescendo. Para expô-lo, planejamos uma estante de 8 m de comprimento, que pudesse organizar as peças, sem que ficassem aglomeradas ou muito espalhadas. Nossa intenção era conseguir harmonia estética como a de uma galeria, mas sem perder a leveza de um ambiente à beira-mar”, diz Luiza.

O primeiro passo da reforma foi reorganizar as áreas do imóvel, que hoje conta com três suítes e um home theater. A cozinha foi integrada à sala, protegida por um amplo painel que se recolhe completamente, graças às dobradiças do tipo camarão. Desde o início, as arquitetas tinham claro que priorizariam o uso de materiais naturais e sustentáveis, sem excessos. “O piso original foi coberto por um cimentado claro cru, que funciona como uma extensão visual da areia da praia. Ele foi aplicado sobre o revestimento antigo, otimizando o tempo de obra e evitando o descarte de entulho”, afirma Valeska.
Para permitir maior entrada de luz natural e a vista do mar, a parede que existia entre a sala e a cozinha foi demolida. A brasilidade ficou impressa em todas as escolhas do projeto, desde revestimentos a mobiliário, incluindo o garimpo dos objetos. “Ele já tinha uma boa coleção, mas, durante a execução da obra, fomos atrás de peças que reforçassem o acervo. Descobrimos nomes incríveis, em lojas que são verdadeiros museus do tema, como a Galeria Pé de Boi, a Umburana e também a do Museu do Pontal”, revela Luiza, que destaca os trabalhos dos pernambucanos Zé Bezerra, Mestre Fida, J. Borges e Mestre Cida Lima, e os alagoanos Mestre Irineia, Mestre Aberaldo, Geninho, entre outros autores de parte das obras que ocupam as prateleiras da estante da sala. “Isso sem falar na arte indígena, representada aqui nas cestarias, nas cerâmicas e nas esculturas. Pesquisar este universo foi um grande aprendizado e um enorme prazer”, acrescenta ela. Foram garimpados ainda móveis modernistas em antiquários, como as poltronas de couro de Lina Bo Bardi (1914-1992), a cadeira Curva, de Tenreiro (1906-1992), e a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues (1927-2014).
A suíte principal, nos fundos do imóvel e ligada a um terraço, ganhou piso de madeira de demolição, teto e paredes revestidas com lâminas de freijó natural e tapete de juta, fabricado artesanalmente no Nordeste. A área externa traz paredes forradas de pedra, teto de bambu e muita vegetação. “Foi fundamental selecionar plantas nativas que trouxessem esse ar tropical e praiano, que permeia todo o projeto. Uma casa com alma bem brasileira, em todos os sentidos”, arremata Valeska.
“Este é um ponto icônico da praia de Ipanema. Nos anos 1970, as turmas da Bossa Nova e do Cinema Novo se reuniam aqui até o sol se pôr“ Luiza Bottino Arquiteta.
ATI Arquitetura – @atiarquitetura