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A bela é a fera

Atualizado: 1 de abr.


Texto: Silvia Gomez | Fotos: Daniel Santo
Texto: Silvia Gomez | Fotos: Daniel Santo

Em um universo majoritariamente masculino, Roberta se consolida como designer de chão de fábrica e imprime linguagem própria na cena do mobiliário brasileiro contemporâneo


Voltamos a 1995. A paulistana Roberta Banqueri, aos 15 anos, começa a cursar design de interiores na Etec Carlos de Campos, instituição pública de ensino técnico de nível médio, fundada em 1911, só para mulheres, e pertencente ao Centro Paula Souza, no Brás, bairro tradicionalmente fabril. O curso durava quatro anos, mas Roberta se lembra especialmente do segundo, quando teve aulas de desenho industrial. “A professora trazia itens complexos de mecânica para desenharmos e observava até como segurávamos o lápis. Riscava o trabalho se não estivesse bom.” A exigência no aprendizado contribuiu para o traço preciso da designer de produtos que ela se tornou 25 anos depois: suas peças descrevem um processo de criação e pesquisa aprofundados, resultado de uma trajetória profissional que começou no design de interiores e passou pela arquitetura, algum tempo depois. “Ao estudar a história do mobiliário, encantei-me com a Chaise LC4, do arquiteto Le Corbusier (1887-1965). Pensei: ‘um dia, também vou projetar uma chaise.’”



Agora, vamos para 2019. Uma cadeira batizada Ponto, e não propriamente uma chaise-longue, inaugurou a virada na vida de Roberta. A essa altura, já estabelecida como arquiteta e tendo integrado por quatro anos a diretoria regional de São Paulo da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), ela se lançou em outra direção. “Eu comecei a nutrir a vontade de desenhar mobiliário. Decidi me aprofundar no assunto e viajei a Milão para fazer um curso de design no Istituto Marangoni”, conta. A experiência, aos 38 anos, não foi fácil, mas voltar a estudar preceitos básicos despertou nela novas perspectivas. “Você tem de questionar os problemas para trazer soluções. Isso me trouxe outro cenário, outro olhar para o negócio. Senti que comecei a trazer coisas mais interessantes no papel, entender minha missão, sabe?”, diz.



Essa reflexão foi dar na Ponto, a cadeira da primeira coleção de Roberta para a todO, marca da Indústria Martina Móveis, localizada em um parque fabril em Antônio Prado, no Rio Grande do Sul. O dono da empresa Valdesir Antônio Contin recorda-se de como conheceu Roberta: “Trabalhávamos com uma linha de mobiliário mediana e precisávamos mudar. Fomos atrás de designers, mas não surtiu efeito. Até que um colega a indicou”. Era 2018 e Roberta passou a frequentar a cidade de 12 mil habitantes em uma imersão de meses para elaborar uma nova coleção, além de conhecer a operação fabril. “Foi uma revolução, deu uma mexida nos funcionários, pois eles tiveram de mudar o modo que estavam acostumados a fazer. Teve um momento em que eles quiseram ‘matar’ a Roberta, mas foram, aos poucos, entendendo que aquilo seria bom para a empresa”, afirma Telma Luiza Oliveira, também sócia da todO.


Se não é fácil para uma mulher liderar um processo de criação, menos ainda é propor revisões e um novo jeito de executar. Roberta não se intimidou e, a despeito da dificuldade encontrada, levou adiante suas convicções. “No início foi muito difícil porque tudo que eu mandei ficou parado. Não havia, de certa forma, a condição de fazer. Sofri a resistência do operador do centro de usinagem, que acabou saindo. Entendi, no entanto, que essa experiência seria um marco para minha carreira, resolvi chamar a coleção de Ponto: o final para algumas coisas e o inicial para outras. E realmente envolveu medos e decisões importantes”, diz. Entre elas, fechar o escritório de arquitetura e abraçar o design de mobiliário. Com dez itens, a linha foi exibida na edição de 2019 da feira paulistana Paralela e, logo depois, em uma ação na Semana de Design de São Paulo, com ótima receptividade. Os produtos traduziam o processo exaustivo de pesquisa e testes da profissional, que levou a coleção a atingir 30 peças. “Quando a Roberta me apresentou o desenho do bufê Pele, eu me surpreendi, pois não tinha visto nada parecido no mercado. E a cadeira Ponto representou outro desafio: foram cinco protótipos até entender que era preciso inserir uma estrutura metálica na peça para a madeira não romper”, afirma Valdesir.


Pouco tempo depois, Roberta selou outra parceria, desta vez com a Più Mobile, do Paraná, especializada em estofados desde 1999. Cacau, Abapo e Oca estão entre os modelos da coleção Tupiniquim. As formas agigantadas capturam o olhar em poltronas e sofás como o Chapada, inspirado no design vintage dos anos 1970. “A Roberta é uma profissional única, de conceitos e criações inovadores. Cada peça conta uma história”, diz Carlos Matias, diretor da Più Mobile.



Essas narrativas, vez ou outra, dialogam com grandes nomes do design nacional, homenagens que inspiram criações, como a da poltrona Caju, que traz referências à obra do designer e industrial Percival Lafer, atuante desde 1961. “Considero Roberta Banqueri uma artista que se descolou do mainstream do design brasileiro da atualidade. Designá-la como designer é pouco. Seus recentes móveis refletem sua marcante personalidade, onde a criatividade transita livremente por temas, como os da cultura brasileira primitiva, sempre com rigor técnico conquistado ao longo de anos dedicados à arquitetura. Irrequieta e obstinada em evoluir, vejo-a em um continuado futuro de conquistas”, avalia Percival, um dos mestres do design moderno brasileiro.


Roberta Banqueri – @robertabanqueri

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