A designer de interiores Luciana Gibaile fala sobre os sentidos aflorados nas pessoas ao redor do fogo e as simbologias do calor 

O que o fogo provoca em você? Aconchego, medo, uma conexão com a natureza, com as lembranças de outrora? Um estado de beleza, calma? As respostas são variadas dependendo do local, da situação e da história da pessoa. A designer de interiores Luciana Gibaile, aprofunda a percepção acerca do assunto e foca a conversa nas Rodas de Fogo, que passaram a fazer parte do layout de muitas casas. 

Muito além da temperatura, da estação em vigor, esses espaços ativam memórias afetivas, sons, tato, imagens, cor, aromas. “Nosso cérebro foi programado para viver na natureza, que é extremamente rica em estímulos para todos os sentidos. A arquitetura tem que ser uma extensão disso, não uma quebra, uma interrupção. De forma geral, hoje consideramos que todos os sentidos do ser humano afetam o seu desenvolvimento, os seus relacionamentos e a sua qualidade de vida”, defende Luciana.
 Foi numa mostra de decoração realizada recentemente em Curitiba – onde fica seu escritório – que a designer apostou no elemento. No estar a céu aberto, a composição era um convite para ficar e interagir. Os móveis selecionados para serem usados num plano mais baixo – próximo ao chão -, o violão à disposição de quem quisesse tocar, a paleta de cores e a roda de fogo para aproximar as pessoas e deixar os sentimentos à flor da pele atraíam visitantes. 

Para quem deseja preparar uma Roda de Fogo em casa, a designer orienta a escolher um local aberto com bastante circulação de ar, piso apropriado para não propagar o calor pelo chão e um local seco e protegido dos insetos para estocar lenha. Segundo a designer, estudiosa na área de Neuroarquitetura, o fogo é capaz de despertar os sentidos da visão, auditivo, olfato e o tato. A profissional elenca como nosso corpo interpreta o estímulo:  

● A forma como enxergamos o fogo de chão (redonda, retangular, retilínea, profunda, rasa…) pode nos dar a sensação de aconchego, rigidez, perigo, rusticidade, sofisticação. A cor e o formato da chama (vermelha e alta, azul e baixa, brilhante ou opaca) ativam nosso cérebro estimulando ou relaxando. O tipo de fogo de chão (lenha, gás, elétrico) ativa nossa percepção e relacionamento com o meio ambiente;  

● A audição é o sentido de maior alcance e alguns sons podem influenciar nossas ondas cerebrais, nossas emoções, nossos sentimentos cardíacos e até mesmo nossa respiração. Muitas pessoas podem sentir que o estalar da madeira durante a queima remete a sensação de mato, de caça, de sobrevivência, assim como memórias de infância ao lado de fogão à lenha na casa da avó; 

 ● O olfato tem o papel de nos ajudar a encontrar comida e, por isso, é considerado um dos sentidos mais antigos. O cheiro ativa o hipotálamo que ajuda a controlar inclusive a fome, o hipocampo (responsável pelo processamento das memórias) e a amígdala (responsável pelo processamento das emoções). Isto é muito usado pelo Neurobranding. As memórias de infância são ativadas ao lado de fogão a lenha na casa da avó, momentos de festa e aconchego em família ou com amigos ao lado de lareiras; 

● No tato, quando a roda de fogo é feita com materiais mais rústicos – como o aço corten, tijolo, pedra – remete à natureza e ativa a noção de biofilia. 

www.lucianagibaile.com.br@lucianagibaileinteriores