Convido o espectador a abrir a “porta” e se aventurar nesta viagem. A série “Pés nas Nuvens” é um desdobramento da série “Mundo da Lua”

Esta série Com os Pés nas Nuvens é um desdobramento da série Mundo da Lua, que, por sua vez se origina da série Uma Casa para Mim, em desenhos de pequenas casas coloridas, com portas e janelas, e do lado de fora sempre se encontra uma escada que vai até a lua. Acredito que ir para a Lua seja uma válvula de escape, afinal é uma fuga e tanto para quem quer fugir deste mundo e se aventurar.

Tenho como pesquisa a moradia das pessoas que me rodeiam, pois cada objeto deixado num canto, a louça suja ou bem limpa e até mesmo o lugar das chaves nos falam muito sobre o morador. Afinal, o que esse morador pode nos contar? E o que nós, espectadores, podemos refletir através desta casa enquanto uma espécie de “espaço expositivo”? Descubro um pouco de mim em cada canto na casa do outro.

“Para mim, a arte tem o princípio de tocar o observador, seja um sentimento muito bom ou até mesmo difícil de sentir. Atingir o observador é a coisa mais gratificante para o artista!”

Quando colocamos aquela foto ou compramos exatamente aquela cadeira, cada item adicionado tem um sentimento e um porquê de estar exatamente naquele local. Até mesmo os objetos que estão muito escondidos também estão repletos de sentimentos, sejam eles de dor, angústia, felicidade ou apenas um simples ato de desleixo.

Mas, e se nós, seres humanos, também pudéssemos ter uma casa com sentimentos? Não apenas esta casa física na qual moramos, mas uma moradia repleta de sensações únicas?

O quanto nós podemos dar importância a um sentimento de alegria ou tristeza? Quais seus valores, tamanhos? Haverá mais alguém ou estaremos sós?

Esta série Com os Pés nas Nuvens sugere para o espectador exatamente isso: pisar nas nuvens, caminhar dentro de si mesmo, em seu grande e vasto universo particular. A cada passo dado um novo conhecimento adquirido e mais uma história para contar.

Para materializar os conceitos desenvolvidos e trabalhados nessa série, utilizo lápis de cor sobre papel, que são os materiais que as crianças têm em seus primeiros contatos com a arte. Quando somos menores parece uma mágica! Uma expressão, um gesto que vai para o papel e parece tornar real e possível o nosso sonho. Na ponta do lápis temos a possibilidade de um vasto universo que parece não ter fim.

Nesta série Com os Pés nas Nuvens revelo como me sinto quando não posso controlar a mente, onde a vontade de “viajar” é ainda mais instigante que qualquer lugar terrestre. Onde conquistamos e sabemos, ou não, de cada objeto deixado, caído ou rasgado. E podemos nos apropriar daquela grande felicidade e até mesmo das lágrimas roladas.

Proporciono ao espectador caminhar sobre essas nuvens, conhecer as minhas “casas internas”, para que o mesmo possa se aventurar neste “sonho” e poder comparar, criar as suas moradias ou se aventurar nessas “casas”.

“Convido os espectadores a abrirem a ‘porta’ e se aventurarem nesta série. Que não será só minha, mas uma viagem que pode e deve ser compartilhada.

Inicio com a Casa da Leveza, esta pode nos propiciar todas as coisas mais sutis, translúcidas e que não se pesam numa balança. Traz também algo de fantástico, de lúdico com os balões flutuando calmamente no céu. E então podemos resgatar a nossa criança interior, aquela que não tem medo, que abre a porta sem temor e com uma grande curiosidade.

Mas como todo e qualquer ser humano, não somos feitos apenas de bons sentimentos, mas também de grandes desgostos, como, por exemplo, quando somos obrigados a ficar trancafiados, fisicamente ou emocionalmente. Há dias em que sair para o mundo afora parece ser impossível, como na Casa do Desespero Solitário.

E também existem os dias de grande raiva, daquela ira que não se sabe de onde vem. Quando percebemos, já estamos altamente irritados, aos berros e urrando para todos os cantos. Tiramos a boa energia do ambiente e do nosso mundo interno. As marés não param de subir e o mar se agita com ondas por todos os lados, como na Casa da Ira na Tempestade.

E nos dias mais quietos, fica quase impossível não lembrar saudosamente de alguém muito querido.  Não só daqueles que partem para uma grande viagem para se aventurarem em outros países, mas também daqueles que partem deste mundo e vão para onde ninguém sabe. Parece que sabemos de que o dia do encontro chegará assim que nós também partirmos.

Bia Caiuby é artista plástica formada pela FAAP, onde teve contato com vários artistas contemporâneos, mas espira arte desde a mais tenra infância, pois o pai é arquiteto e a mãe é também artista plástica. Seu olhar atento e observador e sua alegria de viver se refletem em suas obras cheiras de cor, de luz e de sentimentos.

bia.caiuby@gmail.com