Artista de Assis ganha o mundo com um estilo que nasceu do graffiti. E pelos muros das cidades ele revela cores, beleza e sentimentos

Uma vida simples. Assim se resume o início da trajetória de Anderson Ferreira Lemes, o Alemão. Natural de Assis (SP), nosso entrevistado conta que não teve muito contato com jogos eletrônicos, como o vídeo game, quando criança. “Eu usava a criatividade para me divertir com as brincadeiras tradicionais do interior, como pique-esconde, andar de bicicleta pelo sítio, caçar grilo no mato. À vezes, eu me via rabiscando o asfalto com tijolo quebrado. Enquanto outras crianças jogavam futebol, eu desenhava”, lembra.

Desde cedo, ele se destacava pela quantidade de desenhos que produzia, mas não tanto pela qualidade das obras. “Desde o jardim de infância, meus professores reclamavam aos meus pais por eu ficar desenhando e não prestar atenção às aulas”.

Dos rabiscos no caderno ao graffiti foi um pequeno passo. “Minha primeira experiência foi nos muros do colégio. Depois de uma bagunça que fiz, meu professor propôs que eu doasse minha arte para a escola, assim não seria expulso. Esse professor comprou as tintas e outros materiais do próprio bolso. Ele acreditou em mim, pois sabia que todos os desenhos que apareciam nas carteiras e paredes do banheiro da escola eram de minha autoria. O que ele fez, foi ajudar a canalizar uma vontade que estava escondida dentro de mim”.

No início, Alemão ainda não conhecia a fundo o que era o graffiti e sua criação era instintiva. “Acredito que tudo varia conforme a estética. Assim como um desenhista cria em cima de um rascunho, o graffiti surge da pichação. Ambos têm uma história para contar, um grito de manifesto, mas apenas um deles se encaixa como artes pelo quesito estético”.

Depois de alguns cursos de pintura em tela com um grande artista e professor de Assis, Alemão foi estudar Artes Plásticas. “Eu tinha certeza da minha necessidade de viver de arte. Caso não conseguisse vender minhas obras, pelo menos poderia virar professor e ensinar um pouco daquilo que eu amo. Acredito que a maior importância de ter me formado em artes foi conhecer melhor a parte teórica”. Com o tempo, seu estilo surgiu e se aperfeiçoou naturalmente. “Adicionei a isso muitas lembranças da minha infância, que contribuíram por formar minha personalidade artística”. Alemão conta que mesmo desenhando desde muito cedo, ele apenas se viu como artista quando finalmente abandonou as salas de aula e passou a viver apenas da arte. 

Com muitos graffitis espalhados pela cidade, as pessoas começaram a admirar seu trabalho e convidá-lo para entrevistas. A internet ajudou a divulgar sua arte até o exterior, o que gerou convites para participar de galerias e exposições nacionais e internacionais. Em seu currículo, estão exposições na Itália, França, Austrália, Alemanha, Holanda, Estados Unidos, Canadá e México, entre outros países, além de mais de 10 estados brasileiros. Sua obra atual mescla diversas técnicas, incluindo o graffiti e pinturas convencionais, utilizando materiais como spray, stencils, colagem, tinta acrílica e esmaltes à base d’água. “Foram muitos experimentos para chegar até aqui”.

Além das telas e muros, outras superfícies também já receberam sua arte. “Já grafitei 10 automóveis. Todos estão com colecionadores, em exposições e até um comigo. Entre outros objetos, estão roupas, bolsas, sapatos, portas, brinquedos, instalações, instrumentos musicais, geladeiras, óculos, esculturas, uma Maria Fumaça e até túmulos de cemitério”. As cores são fundamentais em seus trabalhos. “Esse mix de tonalidades me dá uma sensação libertadora, em que não há limites”.

Entre seus principais temas, o mais conhecido é o da série Bicicletas. “Minha inspiração vem da minha vida pessoal, as pessoas que me rodeiam, meu amor pela arte, minhas viagens, livros que leio e histórias que eu ouço. O que me move é descobrir novas criações e inspirações, a vontade de melhorar a cada traço e colocar na tela todas as minhas visões e inspirações diárias”.

Além das telas, bem aceitas na decoração de interiores, Alemão aplica a mesma técnica nas paredes ou muros. “Sempre recebo encomendas de graffiti interno, em que as pessoas costumam adicionar os elementos e cores que gostam para complementar a decoração e o estilo de sua casa ou apartamento. A arquitetura e a arte sempre andaram juntas”.

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