Projeto de restauro do Palacete Conde de Sarzedas, atualmente o Centro Cultural do Museu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Arquiteto formado, em 1980, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e titular do escritório Kruchin Arquitetura, Samuel Kruchin desenvolve projetos de arquitetura, restauro, urbanismo e comunicação visual. Recentemente, lançou o livro “Kruchin – Uma Poética da História”, em que reuniu um conjunto de obras e projetos produzidos nos últimos anos.

Sua obra apresenta as múltiplas vertentes de sua arquitetura, suas principais inquietações formais e as respostas que obteve frente aos desafios expressivos e técnicos na constituição do espaço e do desenho da matéria que o delimita. Dentre seus projetos, destaca-se o Palacete Conde de Sarzedas que, atualmente, abriga o Centro Cultural do Museu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

O palacete foi construído por volta de 1893, por um descendente de Dom Bernardo José de Lorena, para seu casamento com a francesa Marie Louise Dellanger, sendo habitado pela família até 1939. Após esta data, passou do completo abandono à ruína. Em 2001, foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo (CONPRESP), restaurado e, hoje, pertence à Fundação Carlos Chagas.

De acordo com Kruchin, o grande desafio era preservar o último palacete resistente na área central da capital paulista. “Não pensava, assim, em propor uma transforma­ção que mantivesse apenas parte do complexo expressivo, sua volumetria, por exemplo, mas a to­talidade de seu discurso arquitetônico, de sua orna­mentação variada, enfim, a totalidade das formas de representação ali presentes”, explica Kruchin, em seu livro.

Sobre a obra de restauro, Kruchin conta que seus suportes físicos precisavam ser consolidados em cada um de seus segmentos. As paredes frontais foram travadas com braços metálicos e as fundações e vergalhões de aço foram introduzidos em todos os encontros das paredes, para convertê-las em um bloco rígido e está­vel. No plano intermediário, um cintamento metálico diluído entre o barroteamento original em madeira ga­rantiu o travamento horizontal da estrutura.

A solução metálica, segundo Kruchin, permitiu trabalhar com per­fis delgados e fugir da ação drástica, invasiva, das es­truturas em concreto. “Medida de importância crucial, visto que uma escavação profunda seria feita a menos de três metros de suas precárias fundações”, explica.

As pinturas internas exigiram a consolidação, com resinas epóxi, de seu suporte em argamassa de bar­ro ao substrato em alvenaria de tijolos. As pinturas dos forros, todas executadas sobre estuque que associava as réguas irregulares de juçara a uma argamassa de cal e areia – muito fragilizada face ao comprometimento da trama derivada da palmeira – exigiram invenção técnica de consolidação mais apurada.

Um ateliê interno de pintura recuperou, detalha­damente, a natureza de cada registro gráfico e pic­tórico, assim como todos os registros colorísticos para a complementação das lacunas, onde houves­se, com exceção dos locais onde intervenções não modulares e não seriais induziam a limitar uma estilização mais sutil dos elementos similares, ali, existentes.

A recomposição dos vitrais, fala Kruchin, foi capítulo à parte. As peças foram trazidas diretamente da França, único produtor de vidros que permitia, simultanea­mente, o relevo incolor sobre o vidro de intensa vibra­ção colorística.

Proteção do patrimônio

A preocupação em manter viva a história de prédios e obras de arte remete à Idade Antiga, no Império Romano, quando o imperador Alexandre Severo, no século III, determinou a aplicação de multas e a criação de um código de posturas, com o objetivo de manter a imagem da cidade.

Essa preocupação foi transmitida ao longo dos anos, sendo mantida pelo Império Bizantino, que, já ao final do século IV, possuía leis que proibiam a desfiguração das fachadas e de seus ornamentos.

Na chegada da Idade Moderna, durante o Renascimento italiano, foram desenvolvidas novas técnicas e medidas de proteção do patrimônio, por iniciativa da Igreja, visando à conservação de documentos e dos edifícios. Com a chegada do Barroco, as prioridades de restauração passaram a ser obras de conservação e reconstrução de antigos castelos e catedrais. Ano após ano, as técnicas de restauro foram ficando cada vez mais apuradas, conservando um prédio ou uma obra antiga, sem fazer com que ela perdesse sua característica peculiar da época.

Palacete Conde de Sarzedas

Local: São Paulo, SP
Data de construção: 1891-1895
Autoria presumida: Escritório Técnico Ramos de Azevedo
Projeto e execução Kruchin Arquitetura: 2002-2005
Área de intervenção: 590 m²

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