Kogan preserva uma atitude simples em suas ações e busca a naturalidade com traços limpos e ambientes integrados com a paisagem

Acostumado a acompanhar o pai, o engenheiro Aron Kogan, em suas visitas às obras durante a infância, o arquiteto Marcio Kogan deslumbrou-se com a perspectiva da construção paterna do maior arranha-céu brasileiro (com 170 metros e 51 andares), o edifício Mirante do Vale, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. “Acompanhava ele durante as visitas aos canteiros das obras e já sentia que ali seria o meu lugar”.

Apenas um menino que começava a ver o mundo com os olhos do futuro arquiteto, Marcio se maravilhou com a ‘grandiosidade das coisas’. Tal maravilhamento alicerçou o que viria a ser a sua marca em obras, projetos, premiações e liberdade de pensamento. Formado pela universidade de arquitetura e urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1976 e parceiro do genial Isay Weinfeld, que foi seu colega de turma, foi influenciado pelo legado da geração dos grandes nomes modernistas como Affonso Eduardo Reidy, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Kogan passou por várias fases do Modernismo e transitou inclusive no pós-moderno, deixando sua marca na arquitetura, nas artes e no cinema com a produção de 13 curta-metragens em Super 8 e um longa em 35mm, realizado em parceria com Weinfeld em 1988. A década de 90 traz grandes realizações de Kogan, com assinatura em obras grandiosas, como o Hotel Fasano e o Edifício Metrópolis, no bairro do Morumbi (SP). Ainda na década de 90, destacam-se a Loja Larmod (1995) e a Loja Uma, na Vila Madalena (1999). Os projetos desse período exploravam a espacialidade interna com grandes pé-direitos e minimizavam o uso de materiais e cores, quase sempre feitos em massas brancas.

A década seguinte, nos anos 2000, marca um novo ciclo no trabalho de Kogan com a abertura do Studio MK27, que se torna a partir de então uma referência criativa dentro da arquitetura brasileira. Os prêmios serão acumulados com o passar dos anos referendando a sua marca inconteste na assinatura de projetos classificados como ‘geniais’, tal qual a famosa Casa Gama Issa (2002), o Estudio Coser (Cambuci, SP) e o Museu de Microbiologia (Instituto Butantã). Durante esta década, o Studio MK27 ganhará o prêmio Record House da revista Americana Architectural Record (2004) devido ao seu trabalho com elementos brasileiros, como o muxarabis, a varanda e o pátio. Outros projetos se tornarão emblemáticos, como a loja MICASA Volb (2007), a Casa Corten e a Casa Paraty (2009), que receberá grande atenção da mídia especializada com mais de 10 prêmios pelo mundo todo, incluindo o Wallpaper Design Awards, promovido pela revista britânica.

A consagração do gênio Kogan percorre o mundo com projetos internacionais pela Europa, Ásia e América do Sul e distribui-se dentre a ovação dos mais diversificados prêmios de arquitetura, sendo laureado como Membro Honorário do American Institute of Architects (AIA) em 2011. Reconhecido mundialmente pela exuberância de suas obras, Marcio Kogan preserva uma atitude simples em suas ações e busca a naturalidade com traços limpos e ambientes integrados com a paisagem. “Gosto de usar a grandiosidade. Quero levar harmonia aos moradores e emocionar por meio da proporção”. Um dos maiores expoentes da nossa moderna arquitetura, Kogan critica a crescente presença dos escritórios internacionais em Terras Brasilis, assim como a mecanização do fazer arquitetônico. “A exigência de formas inéditas nos projetos, algo tão aclamado hoje pelas empresas, não passa de uma aberração arquitetônica”, afirma Kogan, sem qualquer pudor ao defender a grandiosidade da arquitetura brasileira.

Tal ‘grandiosidade’, parafraseada por Kogan, deu asas aos olhos da criança que ele foi e emergiu para o mundo com mais de 200 prêmios, uma respeitabilidade célebre que abarca as suas mais recentes nomeações: Leaf Awards com a Casa de Punta (2011) e Casa M&M (2013), o Record House com a Casa da Bahia (2011) e o World Architecture Festival com a loja Decameron (2011), Record Interiors com Studio SC (2012) e International Design Award com a Casa Redux (2014). O Studio R foi selecionado em 2014 como finalista Mies Crown Hall Americas Prize como um dos 36 principais projetos executados na América entre 2000 e 2013. Em 2014, a Moleskine lançou um caderno sobre o Studio MK27, mostrando o cotidiano dentro do escritório, esquetes e as principais inspirações. O livro integra a série ‘Inspiration and Process in Architecture’.

Fosse possível resumir a trajetória de Kogan em um livro, conforme o projeto da Moleskine, o arquiteto que aprendeu a agigantar o mundo através dos olhos da infância seria melhor representado numa saga como a de ‘As Viagens de Gulliver’, do escritor irlandês Jonathan Swift – teríamos na personagem de Marcio Kogan, ele próprio, o Gulliver pós-moderno da nossa arquitetura brasileira.