Mais da metade da população mundial vive em cidades e, muitas vezes, sem o contato com a natureza, somos todos por ela sustentados

Mais da metade da população mundial vive em cidades, e no Brasil, mais de 85% da população. Mas embora na cidade, e muitas vezes, sem o contato físico e próximo com a natureza, somos todos por ela sustentados.

Não fosse uma característica peculiarmente especial presente na natureza, incluindo o ser humano, não estaríamos aqui; eu a escrever e vocês a lerem esta matéria. Estamos falando da capacidade de um corpo de recuperar sua forma original após sofrer choque ou deformação, capacidade de superar, de recuperar de adversidades, estamos falando de resiliência. Palavra com seu sentido quase exaurido diante de tanta demanda do homem.

A natureza vem sendo resiliente, não obstante alguns eventos terem consequências e sequelas, além dessa capacidade, ainda podemos aproveitar esta qualidade e característica para promovermos mudanças e buscar no equilíbrio nossa tão quista qualidade de vida – interna e externa.

Apesar dos avanços tecnológicos, os seres humanos estão se conscientizando que estes não respondem mais (nem nunca responderam) aos anseios por qualidade de vida, e esta, por sua vez, está intimamente ligada à natureza – ar puro, água limpa, alimento saudável etc. Portanto, incorporar práticas de gestão sustentáveis que levem às mudanças urgentes e necessárias para que se possa promover essa qualidade de vida e o seu prolongamento é nossa missão e compromisso. Enquanto governo, cidadão, empresário, profissional, pais, filhos, somos todos chamados a cuidar e salvar, não o planeta ou as florestas, mas a própria pele, a própria vida e das futuras gerações.

O número de cidades que são consideradas “mega-cidade” (8 milhões de habitantes) estão crescendo, cada vez mais pessoas estão se transferindo para as cidades (a cada dois segundos, uma pessoa se junta à crescente população urbana) e pela primeira vez na história da humanidade, a maioria da população mundial vive em áreas urbanas.

Neste contexto, soluções que nascem de dentro das cidades carregam em si uma força diferente, pois não se trata de comportamentos ou processos importados de um mundo distante e ideal, não, são soluções que nascem do ‘concreto’, da superpopulação, das dificuldades cotidianas da vida urbana. A permacultura urbana é um bom exemplo.

Princípios da Permacultura

  1. Observe e interaja
  2. Capte e armazene energia
  3. Obtenha rendimento
  4. Pratique a auto-regulação e aceite feed back
  5. Use e valorize os serviços e recursos renováveis
  6. Não produza desperdícios
  7. Design partindo de padrões para chegar aos detalhes
  8. Integrar ao invés de segregar
  9. Use soluções pequenas e lentas
  10. Use e valorize a diversidade
  11. Use as bordas e valorize os elementos marginais
  12. Use criativamente e responda às mudanças

Permacultura – Cultura perene

Segundo Bill Mollison, a Permacultura (permanent + culture) consiste na ‘elaboração, implantação e manutenção de ecossistemas produtivos que mantenham a diversidade, a resistência, e a estabilidade dos ecossistemas naturais, promovendo energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente’. Em outras palavras: a permacultura consiste no planejamento e execução de ocupações humanas sustentáveis, unindo práticas ancestrais aos modernos conhecimentos das áreas, principalmente, de ciências agrárias, engenharias, arquitetura e ciências sociais, todas abordadas sob a ótica da ecologia. (Fonte IPOEMA)

Com esta definição, percebemos o quão abrangente é o tema, portanto, iremos mostrar uma das soluções encontradas pelo ser humano, aplicável no meio urbano e que traz muitos valores de volta ao nosso dia a dia, à nossa mesa. Estamos falando das hortas urbanas, que se inserem no conceito de permacultura.

Quem tem, recomenda

Imaginem canteiros repletos de hortaliças, temperos e verduras dentro de um cenário acinzentado de uma metrópole. Pode parecer miragem, mas as hortas urbanas são uma realidade em amplo crescimento.

Os problemas complexos que nossa sociedade enfrenta, principalmente no tocante ecológico pedem soluções sistêmicas, ou seja, soluções que considerem o todo, a cadeia completa, assim imitando a natureza, onde tudo se transforma e nada se perde. É dessa maneira que as culturas podem ser perenes, duradouras. Uma horta, que é nosso exemplo de hoje, tem um ciclo que ao ser respeitado gera desperdício zero, pois os restos de comida (o excedente da horta) transforma-se em compostagem e ajuda a enriquecer o solo que ajuda as plantas a crescerem fortes e saudáveis que voltam gerar frutos que alimentam os seres humanos e o excedente retorna para o ciclo, perenemente.

Adriana Quitto Gabriotti tem em seu quintal, plantados em vasos: alface, escarola, almeirão, rabanete, cenoura, abobrinha, pimentão, tomate, manjericão, orégano, salsinha, cebolinha, alecrim, poejo, hortelã. Ufa! Tudo isso prazerosamente incluídos nas refeições diárias. A arquiteta Fabiana Freire ajudou na aquisição dos vasos certos e projetou um melhor aproveitamento do espaço, inclusive usando varais de aço para a parreira de uva que em breve ajudará a manter mais frescas a cozinha e a copa. Outro desafio foi a necessidade de criar um espaço dentro da cozinha para abrigar dois lixos, um para resíduos orgânicos destinados à compostagem e outro para o material reciclável (recolhido pelo condomínio). Resultado prático, bonito e sustentável.

Adriana nos conta ainda algumas vantagens de se ter uma horta em casa:

  • Comer produtos naturais, fresquinhos e saudáveis (livres de agrotóxicos)
  • Pode-se usar o espaço que tem (pequeno ou grande)
  • Economia
  • Uma forma pedagógica de ensinar os filhos
  • Traz passarinhos para o quintal
  • Reaproveitamento dos resíduos orgânicos

Faça uma horta em casa e em breve você estará, literalmente, colhendo os frutos!

Ficou animado? Nós damos uma forcinha:

Acompanhe algumas dicas da paisagista Ana Paula Ferreira:

Escolha do local

A dica é procurar um local com iluminação natural, o máximo possível, que seja um ambiente semi-úmido e que não tenha vento, explica a paisagista Ana Paula Ferreira, que ainda recomenda todo cuidado, pois as verduras e legumes não são adeptos ao excesso de sol, principalmente por estarem em espaços reduzidos como os vasos.

Onde plantar?

Em qualquer recipiente: vasos, jardineiras, pneus, até canos de PVC (de 30 cm de diâmetro) cortados ao meio. Dá para usar também garrafas PET de 2 litros (cortadas acima da metade) ou carrinhos de mão. É preciso sempre furar embaixo para a drenagem da água.

Primeiros passos

Dentro do recipiente escolhido, colocar 5cm de argila expandida (a mais indicada por ser mais leve), pedrisco ou outro material que ajude na drenagem da água. Por cima, coloque a manta bidim e depois a terra vegetal ou orgânica.

Seleção das culturas

Opte por hortaliças com raízes curtas, como alface, cebolinha, salsa, pimentão e couve-folha, ou até frutas de pequeno porte, como tomate-cereja e morango. Outras espécies recomendadas pela paisagista são: beterraba, cenoura, coentro, alecrim, cebolinha, orégano, mangerona e manjericão.

Compostagem caseira

A compostagem é feita de forma bem simples, aproveitando cascas, folhas, talos, tudo do nosso dia a dia na cozinha. Quando o lixo é retirado da cozinha ele pode ser misturado às folhas e galhos de árvores. Vamos chamar esta mistura de:

Matéria orgânica.

Forma de preparar o composto

  • uma camada de terra
  • uma camada de matéria orgânica
  • uma camada de esterco

Repetir o mesmo processo três vezes e deixar curtir (secar) por 30 dias. Após este período, misturar uma vez por semana até que o composto fique bem sequinho. É este composto que você irá colocar na jardineira logo após a argila e a manta para plantar as suas mudinhas.

Compostagem?

A compostagem é o processo de reciclagem da matéria orgânica que propicia um destino útil para os resíduos orgânicos, evitando sua acumulação em aterros e melhorando a estrutura dos solos. Esse processo permite dar um destino aos resíduos orgânicos domésticos, como restos de comidas e resíduos do jardim. A compostagem é largamente utilizada em jardins e hortas, como adubo orgânico, devolvendo à terra os nutrientes de que necessita, aumentando sua capacidade de retenção de água, permitindo o controle de erosão e evitando o uso de fertilizantes sintéticos.

Arquiteta Fabiana Freire
fabifreire@yahoo.com.br

Paisagista Ana Paula Ferreira
anapaulaf.rosa@hotmail.com